A Procuradoria-Geral da República (PGR) deteve mais cinco implicados na Operação Caranguejo, que envolve militares de alta patente ligados à Casa de Segurança do Presidente da República, João Lourenço, e por ele escolhidos, entre os quais o elo mais fraco, eventual testa-de-ferro, o major Pedro Lussaty. Há quem diga que tudo não passa da edição angolana do “Hell’s Kitchen”, exclusivamente vocacionada para os mariscos…
Os cinco suspeitos foram submetidos a interrogatório na Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP), tendo-lhes sido aplicada como medida de coacção a prisão preventiva, segundo a Rádio Nacional de Angola.
Na semana passada, foi divulgada uma lista enviada a todos os órgãos provinciais do Serviço de Migração e Fronteiras proibindo a saída do país de 24 militares, todos constituídos arguidos no âmbito do processo-crime 39/2021, conhecido como Operação Caranguejo, incluindo o major Pedro Lussaty, encontrado na posse de milhões de dólares.
A PGR anunciou, em 24 de Maio, que foi aberto um processo que envolve oficiais das Forças Armadas Angolanas afectos à Casa de Segurança do Presidente da República, por suspeita dos crimes de peculato, retenção de moeda, associação criminosa e outros.
A nota da PGR frisava que, no âmbito do processo, foram apreendidos valores monetários “em dinheiro sonante, guardados em caixas e malas, na ordem de milhões, em dólares norte-americanos, em euros e em kwanzas, bem como residências e viaturas”.
O chefe das finanças da banda musical da Presidência da República, Pedro Lussaty, terá sido detido na posse de duas malas com dez milhões de dólares e quatro milhões de euros, supostamente a tentar sair do país.
Na sequência do escândalo, o Presidente da República, igualmente Presidente do MPLA e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, demitiu vários militares de topo ligados à sua Casa de Segurança, bem como o seu responsável máximo e ministro de Estado, o também general Pedro Sebastião.
O Banco Nacional de Angola (BNA) abriu também um inquérito para apurar as circunstâncias em que o dinheiro levantado por um banco comercial foi encontrado na posse dos oficiais ligados à Casa de Segurança, cujas conclusões não foram reveladas.
O regime já não tem voltas a dar. Corroeu, gangrenou e a sobrevivência só é possível, com o recurso ao bico das baionetas, das balas assassinas e das bombas dos canhões, que também tem os dias contados, pois os “disparadores”, tratados como carne para canhão e muitos pós desmobilização, têm como reforma, vegetar nos contentores de lixo, para sobreviver, começam a ganhar consciência de serem usados como meros assassinos, para defender um regime e casta, que não lhes tem respeito e consideração, pois usam-nos apenas em proveito umbilical, para continuarem refastelados na pirâmide de um poder déspota.
O MPLA implantou uma verdadeira desestruturação política do Estado operacionalizada por um regime governamental absolutista que transforma o défice democrático, o “modus operandi” de uma governança acéfala que faz da “violência policial” um mecanismo de contenção das massas sociais, adestrando-as conforme a lógica do medo e da precariedade existencial, tornando-as dóceis e submissas, com o apoio estratégico de um programa ultraliberal, que escancara a economia ao capital estrangeiro, que branqueia a corrupção e a evasão de capitais, numa óptica, completamente avessa ao crivo democrático.
Um cidadão foi exposto, na comunicação social pública, como tendo engendrado de modo próprio um desvio monstruoso e bilionário. Mentira! A cadeia de comando militar é rigorosa e vertical no mando e, tratando-se da Casa de Segurança do Presidência da República, onde existe a dualidade funcional: Presidente da República e Comandante-em-Chefe das FAA, nada pode passar despercebido, durante tanto tempo, sem que as assinaturas decisórias tenham sido apostas nas devidas e competentes autorizações de levantamento dos montantes no Banco Nacional de Angola, visando alimentar a selectiva e corrupta distribuição, entre as estrelas bélicas.
A não ser que estejamos diante de uma completa baderna institucional da Presidência da República, só comparada a um covil de larápios onde impera a lei da ladroagem.
Acreditar que o major Pedro Lussaty chegue, por engenharia mental, a ludibriar mais de 10 generais, incluindo o Comandante- em-Chefe das Forças Armadas, só pode ser uma das mais inverosímeis mentiras e ofensa à maioria dos angolanos de bem.
Lussaty é mais um embuste, construído para ludibriar a não realização, em 2021, das eleições autárquicas, o fracasso do programa económico, a tentativa de adiamento das eleições de 2022, com o adiamento do registo eleitoral e o falhado e selectivo combate à corrupção que gastou mais dinheiro do que recuperou, em quatro anos, com novos milionários, reforçados na classe das magistraturas.
Pedro Lussaty é laranja dos generais, que se fartaram de comer e, como era demais a exposição ao facilitismo, foram completamente incompetentes, porquanto algumas trincheiras indignaram-se e denunciaram o feito, sendo descobertos “infantilmente”, ao ponto de irritarem tanto o chefe máximo, que não teve outra alternativa que não fosse exonerar toda a corte, incluindo o chefe da Casa de Segurança, Pedro Sebastião, excluindo o seu adjunto, o “general-irmão” do Presidente da República que, alegadamente, “assistiu aos roubos, beneficiou com os roubos, mas não é ladrão”, como os demais que foram copiosamente “enxotados” e tratados como tal em hasta pública.
Acreditar ser este acto, uma demonstração da eficácia de João Lourenço no combate aos crimes de corrupção, sai da linha do razoável e torna o ridículo uma pérola propulsora da máquina mental dos membros do bureau político do MPLA, que ante o óbvio: ADN da ladroagem do regime, preferem considerar não que João Lourenço pode ser Deus, mas que é o próprio Deus, pois é isento de errar e tem uma inocência e bondade transcendental.
O que intriga e indigna os angolanos de bem é ver desfilar tanta incompetência, ladroagem, corrupção, no seio de um partido político que tem os códigos dos cofres públicos e os seus membros coloquem em primeiro plano o partido ao invés de Angola. Como pode ser considerado pessoa de bem, um militante do MPLA que se orgulha de em 46 anos de poder absoluto e exclusivo, o partido resistir na não criação de órgãos de soberania fortes, independentes, optando em colocar no topo da pirâmide o MPLA, não como quarto, mas primeiro órgão de soberania que a todos se sobrepõe?
É preciso uma verdadeira reforma mental da elite dirigente deste partido sob pena de sucumbirem, na esquina da nova aurora, pois não podem continuar a demonstrar amar mais o dinheiro que o cidadão.
Como interpretar o fundamento do Mandado de Buscas e Apreensões da Procuradoria da Região Militar de Luanda que, publicamente, vem demonstrar não conhecer sequer o nome dos seus generais, ao ponto do agente, sobre quem impende o mandado ser identificado com a sua alcunha: Tenente General “Maneco”. Insólito! É a justiça que temos…
A insanidade da classe dirigente pode levar à instabilidade de um país, principalmente, quando políticos e intelectuais, hipotecam o saber para idolatrar o poder absoluto de um homem que esvazia os órgãos de soberania. A intelectualidade deve indignar-se e dizer que nenhum presidente, por mais competência que tenha, não pode querer monopolizar tudo e todos, mesmo quando a fome e a miséria avançam para o interior dos cidadãos, que morrem face à brutalidade mental dos dirigentes.
Na maioria das vezes servem de carne de canhão, depois são tratados pior do que leprosos. Os soldados pobres garantem a sobrevivência de poderes e regimes déspotas que se servem deles e depois, como sempre, tratam-nos como cães mendigos, sem ter, sequer uma reforma digna para sobreviver. Este soldado que não é desconhecido para continuar a viver tem como despensa os contentores espalhados por esta Luanda e Angola fora. Deveriam ter vergonha, senhores governantes, pois não vivem para servir, mas para se servir.